A revolta das pessoas que eu não entendo

No seguimento deste post e mais alguns acrescentos.

A França está a planear um projecto de lei em que as modelos devem ter um Índice de Massa Corporal superior a 18 para poderem trabalhar e ser contratadas.

A maior parte de vocês concordou com esta lei, mas eu não. E antes que me comecem a atirar pedras, leiam até ao fim.

Eu tenho 1.65m e o meu peso normal são 47kg. Visto o XS/S na parte de cima (até porque tenho umas maminhas pequenas) mas da cintura para baixo sou um M (vario normalmente entre um 36/38). O meu índice de massa corporal encontra-se abaixo dos 18, ao que, segundo esse valor, sou subnutrida. O que não é verdade. Sempre fui magra, os meus irmãos são magros e os meus pais também. O meu irmão come que nem uma besta e continua magro. É mesmo como nós somos. E comemos todos bem, não somos fanáticos por exercício físico nem pelas dietas. Se muitas amigas minha comessem aquilo que eu como provavelmente engordavam. Mas eu tenho dificuldade em engordar. Para aumentar um quilo que seja tenho de comer o dobro durante duas semanas.

Somos magros, mas somos saudáveis. No meu caso, não tenho os ossos das costelas proeminentes nem das ancas, e o espaço entre as duas pernas até é bastante reduzido (ao contrário do da imagem).

Para uma lei deste tipo der eficaz, deveria também contemplar outros factores com os índices de massa gorda/magra, a densidade óssea e também testes psicológicos para determinar se a modelo em questão não sofre de anorexia ou outro tipo de distúrbio, assim como uma avaliação da sua dieta.

Eu não sou contra nem favor das pessoas magras ou das mais cheinhas. Sou sim a favor dos corpos saudáveis. E estes variam de pessoa para pessoa.

Recentemente foi lançado um anúncio da Protein World que tem causado imensa polémica e revolta. (Igual a tantos outros... Não sei porque é que implicaram com este em especial).

Esta campanha só me chamou a atenção pelos comentários e pelas revolta de muitas pessoas por esta internet fora (descobri no blog da Pipoca Mais Doce). Se não fosse isso, tinha-me passado completamente ao lado.

Então vamos lá ver:

1º - Esta é uma empresa que vende produtos para emagrecimento e suplementos para quem faz exercício. Como tal, não vão colocar no anúncio uma rapariga cheia de pneus, rechonchuda, gorda... Iria contra o próprio produto que vendem. Eles têm que fazer publicidades que ilustrem o que é o produto e os seus resultados.

2º - A rapariga em questão... a mim ela não me aprece excessivamente magra (não esquecer que deve ter toneladas de phostoshop em cima). É simplesmente magra, com um corpo tonificado do exercício. Mas cerca de 200 pessoas queixaram-se e disseram que esta campanha era «offensive, irresponsible and harmful because it promotes an unhealthy body image». A petição online para retirar os cartazes já ultrapassou a 50000 assinaturas. Sinceramente, não percebo. A mim não me ofende nem acho que seja prejudicial ou que promova uma imagem de um corpo não-saudável.

3º - O slogan «Are You Beach Body Ready?», pergunta se o teu corpo está pronto para a praia. Não diz em lado nenhum que o corpo perfeito para a praia é aquele (claro que com a modelo acaba por ficar subentendido). Também não está escrito em lado nenhum que as outras pessoas, mais cheias, não possam usar biquini ou ir à praia. Isso já é uma interpretação de cada um.

Sinceramente, faz-me confusão aquelas pessoas que aplaudem quando aparece um anúncio com modelos mais curvilíneas, que afirmam que não devemos ter vergonha do nosso corpo, e que todas as pessoas são lindas e maravilhosas independentemente do tamanho que vestem. Mas depois, quando aparece um anúncio com uma rapariga magra, são as primeiras a criticar e a achar ofensivo («ai que é muito magra e as pessoas não são assim» Existem pessoas magras por natureza, metam isso na cabeça). Para mim isto é hipocrisia pura. É conversa de quem não se sente bem com o seu próprio corpo (apesar de afirmar que sim). Porque se sentisse segura e feliz consigo própria, estas coisas iriam-lhe passar completamente ao lado, em vez de ficar revoltada e começar a deitar fumo pelas orelhas.

Há pessoas que se sentem bem magras, há pessoas que se sentem bem gordas, há pessoas que se sentem bem a comer bolos e hambúrgueres todos os dias, há pessoas que se sentem bem a fazerem exercício. Este é um anúncio cujo o público alvo são as pessoas que gostam de fazer exercício e terem um corpo magro. Se não fazes parte desse público alvo, simplesmente ignora. Não critiques o estilo de vida dessas pessoas, assim como não gostas que critiquem o teu.

Nós devemos ter um corpo e um estilo de vida que seja saudável e que nos faça feliz. E não porque é o que as marcas "mandam", supostamente. Para a mim, as marcas não mandam nada (pelo menos não em mim, nem nos meus gostos). Sou pouco influenciada pelos anúncios, pelas tendências e pelas marcas. Podem vir dizer que este ano estão na moda os sapatos de plataforma. Acho horrível, não vou usar só porque dizem que é fixe. Mas também não vou criticar quem usa e gosta. O mesmo se passa com o nosso corpo. Pode estar na moda ser-se magra e fazer exercício para ter os abdominais definidos. Eu não gosto de ver mulheres com abdominais definidos. Mas também não vou criticar quem o faz ou o marketing feito por empresas com esse propósito.

A mim é-me indiferente que usem modelos magras ou modelos com mais curvas. Desde que sejam saudáveis e não estejam em nenhum dos dois extremos (excessivamente magras ou excessivamente gordas), para mim acaba por ir dar tudo ao mesmo.